terça-feira, 17 de setembro de 2013

Caraça: Uma porta de entrada para a gastronomia francesa .....

Quem conhece uma comida mineira autêntica, de preferência de fazenda , bem feita, e sem os exageros e misturas que vemos por estes fogões de lenha por aí a fora. Sabe que a verdadeira essência de nossa culinária ( principalmente a parte salgada dela) é mais francesa  do que portuguesa. Por que?

Fogão de lenha do Caraça
Passado o período anterior à descoberta do ouro, onde a alimentação se baseava na comida de borralho(tubérculos assados, caça na brasa, frutas silvestres  mescladas com a alimentação dos índios e dos escravos).
Borralho....
 Chegando ao final do século XVII, quando inicia o ciclo do ouro em Minas Gerais. A  comida entra em outro estágio: Seja trazida pelo ouro, ou pelas fazendas principalmente de açúcar, café e gado, começa a surgir uma nova classe social enriquecida em Minas Gerais, que precisava de cultura e progresso científico.
Frase da Imperatriz , D. Tereza Cristina durante `sua visita ao Colégio Imperial do Caraça.
Neste mesmo período, a França se preparava para viver sua revolução cultural e científica e artística o Iluminismo. Paris, se tornava o centro do mundo, sua cultura e ideias eram reconhecidas e desejadas por todos que a ela tinham qualquer tipo de conhecimento que ela existia.
Os jardins se confundem com a mata do Caraça....

Este desejo que a França despertava no mundo, chegou até aqui. Podemos observar vários  relatos e fatos diversos, como é o caso do Barão de Catas Altas, que tinha como serviçal um mordomo francês, ou, os menus dos Palácios de Governo sempre escritos em Francês.
No entanto, quem aprendia as técnicas destes pratos eram as escravas, já que na época o trabalho era uma afronta à  nobreza.
Detalhes dos vitrais da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens
Por outro lado com declínio do ouro, veio a fome, e  a pobreza. Para muitos um tempo perdido com a .febre do ouro.  A agricultura e pecuária eram quase inexistentes, não tinha diversidade, e, já não se tinha  pepitas para importar alimentos, caríssimos pelas estradas quase inexistentes. E outra, a abolição da escravatura, que  alterava toda a estrutura social da época. Na maioria das vezes os negros eram mantidos nas fazenda para o trabalho agrícola, mas e as escravas? Eram bocas para alimentar sem retorno produtivo. Muitas vezes as meninas eram abandonadas à sua sorte. Mas, este movimento possibilitou a difusão das técnicas de cocção das grandes fazendas, para os menos nobres da época, que usavam estas técnicas e outras nativas, aliadas à muita criatividade, para com os poucos ingredientes disponíveis,  preparar pratos saborosos.
Casa das Sampais, antigas servidoras do Caraça
Esta culinária de origens diversas: Europeia , Africana e Indígena, ficou preservada não pelas montanhas, mas pela pobreza, pela falta de estradas, pelo desinteresse despertado nas grandes correntes de imigrantes que vinham para o trabalho agrícola, em São Paulo e no Sul, na época Minas era Um lugar falido. Estes fatores a aproximaram mais ainda mais a culinária mineira da Francesa, o conceito de auto sustentação era muito próprio da França, sempre envolvida em guerras.
Horta do caraça, ainda hoje em funcionamento, citada em 1816 pelo pesquisador Francês August Saint-Hilaire

Minas vivia da subsistência: O  mineiro tinha em seu quintal, um açougue,  um mercado de frutas, legumes e verduras, uma padaria, uma doçaria, um  moinho, uma farmácia etc..
O Caraça foi uma grande porta de entrada para dar o suporte cultural e científico, ligado à França pelos Vicentinos, difundia as técnicas culturais e científicas para sustentar este processo. O próprio modo de vida no Caraça, fabricando seu próprio vinho, o queijo, produzindo suas as frutas, verduras e legumes. Além de desenvolvimento de todos os ofícios do antigo colégio: Como alfaiataria, sapataria, marcenaria, doçaria, padaria etc....
É possível, na biblioteca do Caraça encontrarmos livros, na grande maioria franceses, marcados e riscados pelo uso frequente, livros estes com diversas técnicas sobre diversos temas: Queijo,  vinho, carnes, culinária, perfumaria, farmácia etc....

Livro francês de governança e metria, editado em 1888.
Com receitas, métodos para cortes e utilização de carnes, organização e preparação de formas de receber.
Sabedores destas práticas e, de várias outras teorias, os alunos do Caraça, foram grande expoentes  e políticos de altos cargos principalmente em Minas Gerais, quando não, foram sacerdotes que ajudavam na formação de diversas comunidades. Estes alunos foram sem dúvida difusores, e referencial cultural em Minas Gerais.

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